sexta-feira, 2 de março de 2018

'Quero curtir minha família, o que mais amo', diz pai libertado após ser condenado injustamente por abusar dos filhos

Ele foi condenado a 27 anos de prisão por abusar sexualmente dos filhos quando eles tinham 8 e 6 anos.


Após quase um ano preso injustamente, o vendedor Atercino Ferreira de Lima Filho, de 51 anos, foi solto na manhã desta sexta-feira (2). Ele estava preso desde abril de 2017, condenado a 27 anos de prisão por abusar sexualmente dos filhos quando eles tinham 8 e 6 anos e o Tribunal de Justiça de São Paulo o absolveu unanimamente nesta quinta-feira (1º). "Gostaria de agradecer a Deus muito, a minha esposa, aos meus amigos. Quero ir para casa, comer uma pizza, cervejinha com meus amigos, curtir minha família, que eu mais amo e mais quero na minha vida", disse ao sair da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São Paulo. "Queria agradecer meus advogados que foram o máximo e, sem Deus primeiro, e sem a força deles, eu hoje estaria aqui preso", completou. A absolvição foi fundamentada nos depoimentos dos filhos, que contaram ser obrigadas a mentir sobre os abusos para prejudicar o pai, que estava separado da mãe. O advogado de Atercino, Paulo Sérgio Coelho, afirmou que os filhos ficaram sem visitar o pai por quase um ano. "Os filhos de Atercino ficaram 11 meses sem poder sequer visitar o pai aqui na Penitenciária em Guarulhos. Como até então eles eram vítimas de um processo de abuso sexual, não podiam ter contato com o preso. Com Atercino em liberdade, tanto a família quanto os advogados disseram que não pretendem acionar judicialmente a mãe que deu início às denúncias", disse. Na saída da penitenciária, ao lado do pai, a filha Aline disse que quer “valorizar cada minuto, cada segunda, porque família é o que a gente tem de mais precioso”. "Quero viver em harmonia, o que foi tirado da gente", disse o filho Andrey. Separação e maus tratos Atercino e a mulher se separaram em 2002 e os filhos Andrey e Aline ficaram sob a guarda da mãe, que foi morar na casa de uma amiga. Lá, os irmãos contam que sofriam maus tratos e fugiram de casa. Eles moraram em orfanato e quando saíram procuraram pelo pai e começaram uma batalha para provar a inocência dele. Em 2012, Andrey registrou em cartório uma escritura de declaração em que afirmava que nunca havia sofrido abusos por parte do pai. "Eu, quando criança, era ameaçado e agredido para mentir sobre abusos sexuais."

No total, Atercino respondeu pelo caso por 14 anos. Um projeto que começou nos Estados Unidos, Innocence Project, que tem a missão de tirar da cadeia pessoas que foram presas injustamente, ajudou a família. Dora Cavalcati, diretora do Innocence Project, explica que os laudos da época da denúncia foram negativos para violência sexual. "Uma psicóloga forense atestou, depois de conversar longamente tanto com o Andrey quanto com a Aline, que eles não tinham nenhuma sequela de violência paterna por condutas de abuso sexual. [Atestou] que, ao contrário, eles foram crianças que cresceram em meio aos maus tratos infringidos pela mãe e pela companheira da mãe." Como o caso já havia sido enviado às instâncias superiores, novas provas não foram incluídas. Após o processo ter transitado em julgado, a família entrou com uma ação revisional criminal - quando se pretende reverter uma decisão judicial, mostrando provar que houve erro judicial.